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Quantas Vezes uma Profecia Pode se Cumprir?

Eguinaldo Hélio de Souza

13/08/08

O recente retorno dos judeus à sua terra é o cumprimento das profecias do Antigo Testamento? Ou esse evento da Era Contemporânea nada tem haver com os textos dos profetas, uma vez que já houve um retorno depois do Cativeiro Babilônico narrado em Esdras e Neemias?

Sobre o assunto do retorno dos judeus à sua terra, nós temos diversas profecias. Podemos citar uma do profeta Isaías:

Isaías 43.5,6 na qual está escrito: Não tenhas medo, pois eu estou com você, do oriente trarei seus filhos e do ocidente ajuntarei você. Direi ao norte: Entregue-os! E ao sul: Não os retenha. De longe tragam os meus filhos, e dos confins da terra as minhas filhas.

Se o atual retorno dos judeus à sua terra de origem não é o cumprimento das profecias, do que se trata então? Se o retorno sob Zorobabel e Esdras tinha um caráter profético, por que o atual seria diferente? Muitas profecias tiveram cumprimento duplo ou triplo e, portanto não se pode esgotá-las em um único evento. Israel vive dentro do horizonte móvel da promessa, onde os eventos devem ser entendidos como estações numa caminhada, como momentos em um processo que continua (Junger Moltann, Teologia da Esperança, Editora Teológica, 2003). O atual retorno é uma prova de que este processo ainda não chegou ao seu fim.

Além do mais, aqueles que assim raciocinam, demonstram ter pouco conhecimento dos princípios que regem as profecias bíblicas. Estas podem ter diversos cumprimentos ao longo do tempo, até chegar a um cumprimento pleno. Um exemplo disso é a forma como os judeus entenderam as profecias de Isaías sobre novos céus e nova terra. Era o seu retorno após o exílio babilônico. Para eles, a promessa de Isaías 65.17 onde diz: Pois vejam! Criarei novos céus e nova terra, e as coisas passadas não serão lembradas. Jamais virão à mente! Era uma garantia de seu retorno à Terra de Israel. Posteriormente “novos céus e nova terra” está ligado com a recriação do próprio universo. A mesma expressão em Apocalipse 21.1 tem um significa mais amplo e aguarda um novo cumprimento, agora abrangendo todo Universo Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.

A dispersão e ajuntamento de Israel, longe de ser um tema restrito aos profetas como julgamento por sua apostasia, faz parte das previsões divinas desde o princípio. No Pentateuco já havia diversas referências à sua dispersão e posterior ajuntamento. Não há motivos para considerar apenas uma dessas ocorrências como sendo o cumprimento das profecias, e os demais eventos como caso à parte, divorciado da Palavra. Não se pode limitar o cumprimento das profecias a um único evento.

Há dois casos que merecem ser analisados neste foco. Um deles é o cerco predito em Dt 28.52-57 e o seu cumprimento no cerco de Samaria em 2 Rs 6.28,29. Posteriormente há outro cumprimento no cerco de Jerusalém, conforme Lamentações 4.10,11. Mesmo esse momento histórico não esgotou o assunto, pois em 70 d.C. tornou a ocorrer, agora não com registro bíblico, mas com minucioso registro através de Flávio Josefo, historiador judeu contemporâneo ao evento e testemunha ocular do mesmo (Guerras Judaicas, Livro VI Capítulo 21.456).

Portanto, este é um exemplo de uma profecia se cumprindo pelo menos três vezes ao longo do tempo, sendo que um dos cumprimentos ocorre no período pós-bíblico da história judaica.

Da mesma sorte, a predição de Daniel sobre a abominação no Lugar Santo não teve seu cumprimento esgotado com o fato de Antíoco Epifánio ter colocado a estátua de Júpiter no local mais sagrado do judaísmo, depois de ter sacrificado um porco no altar. Se assim fosse, Jesus não poderia ter citado essa mesma passagem como tendo um cumprimento futuro (Mt 24.15).

Não há motivos para separar a “Aliá” (subida, retorno de Israel) destes últimos tempos como um evento diferente do que aconteceu em períodos anteriores, divorciando-o das

milenares profecias bíblicas. Só é possível vê-lo como um verdadeiro milagre histórico, de suma importância, que jamais deveria ser tratado como evento de pouca ou nenhuma importância.

Esses são alguns pontos a serem considerados quando estudamos as profecias. Esses exemplos servem para mostrar que esgotar ou desconsiderar um novo cumprimento em nossa época não foge do padrão normal das predições divinas. Fazem parte das regras hermenêuticas para interpretação desse tipo de literatura específica da Bíblia – os textos proféticos.

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