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Israel – Primeira Impressão

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Memorável momento: pela primeira vez em nossas vidas pisamos a Terra Santa.1

Érico Veríssimo, Israel em abril

 

Se a primeira impressão é a que fica, então Israel ficará para sempre em nossos corações. Tendo estudado, escrito e ensinado sobre o assunto por anos, tive só agora privilégio de viajar através da Terra Prometida, conhecendo os locais onde ocorreram os fatos que confirmam a fé. Pude caminhar na região que permanece sendo de muitas formas o coração do mundo. Aquele pedaço de chão que ocupa tanto espaço nas narrativas históricas e na mídia atual estava diante de meus olhos e eu me encantei. Foi como reencontrar um velho amigo depois de tantos anos.

Cada sítio arqueológico, cada museu, cada paisagem de Israel, natural ou urbana, contém um algo mais, uma presença especial que não se explica com palavras. Vai muito além do roteiro turístico. Visitamos Israel com a alma. Ninguém vai para ali vazio. Chega ali com um mundo de expectativas, de crenças, de sentimentos. Carrega consigo inúmeras perguntas e espera ter todas as respostas ao final da viagem. Isto torna tudo mais vivo, mais interessante. Os espíritos se exprimem e se imprimem sobre as cenas. Olhamos para Israel ao mesmo tempo em que ele olha para nós. Homem e ambiente interagem não em um sentido ecológico, mas em um sentido espiritual muito mais profundo. Israel é mais do que Israel.

Tel Aviv, Carmelo, Corazin, Jericó, Tibérias, Mar da Galileia, Mar Morto, Qunram, Massada, Belém, Jerusalém… Livros de pedra onde as pedras clamam e o vento sussurra, falando de um tempo que foi e que é, de um lugar que outrora esperança milenar de um povo é agora a morada desse mesmo povo. Terra na qual habitou por quase dois mil anos suas memórias e seus anseios, tornou-se agora sua habitação, fazendo brotar novas esperanças e novos anseios. Tudo ali tem voz.

Nossos olhos não cansaram de ver e nem nossos ouvidos de ouvir as coisas preciosas daquela terra, onde o antigo e o moderno se encontram como em uma reunião de família. Naquele pequeno espaço geográfico a história é condensada, pois a profecia se encontra com a história e os sítios arqueológicos competem sadiamente com os pomposos edifícios. Em Israel não convergem apenas os três continentes, convergem também os três tempos. Passado, presente e futuro se encontram como se fossem um só momento indistinto. Como uma linha ininterrupta, em Israel a Bíblia vive e fala hoje como falou outrora. Temos a impressão que ali o sol da história não se põe, permanece sempre no centro do céu iluminando tudo por igual. Difícil explicar como. São as razões do coração das quais Pascal nos falou.

Ali nos fala o passado de uma forma grandiosa. Não é um passado mudo, inerte, estéril. Não são pedras mortas. São profetas da antiguidade testemunhando a um mundo cético, monumentos que proclamam a voz de Deus entre homens que há muito deixaram de buscar o som da eternidade. As inúmeras escavações são como janelas do tempo que expõe as raízes da

grande árvore e revelam os fundamentos da atualidade. É um passado que não se extinguiu ou que se renovou como se sempre tivesse sido.

E o presente de Israel é tão encantador quanto o seu passado. Bairros que parecem ter saído das narrativas bíblicas competem em beleza com os altos edifícios em sua arquitetura moderna. O chip e a pedra caminham lado a lado em passos harmônicos, enquanto elevadores inteligentes ajudam aos ortodoxos a guardar o sábado. Nanotecnologia e tradição, fé e pesquisa científica, armamentos modernos e taliths não se excluem mutuamente. Na verdade se unem para compor o agora. Temos um presente que não se sobrepôs ao passado, mas chamou-o para junto de si como um filho chama ao pai.

E na convergência do passado com o presente inúmeras expectativas pairam no ar. Onde profecias proferidas há séculos transformaram-se em capítulos dos livros de história, profecias não cumpridas aguardam o momento de se revelar. O palco se projeta pouco a pouco e um futuro temeroso pode nele apresentar-se quando menos se espera ou se deseja. Não é verdade que todos os caminhos levam a Roma. Na verdade, eles conduzem a Jerusalém, à Israel e nós sabemos que ali se decidirão os dilemas da história. Israel também é futuro.

Por isso, deixamos Israel como quem deixa a pátria – desejando em breve retornar. Nosso coração cristão continua ali, aguardando nosso retorno para ajustar-se ao peito novamente. Permanece um forte sentimento de que apesar do muito que foi visto, muito mais, muito mais há pra se ver. Tantas pedras nos caminhos e tão poucas foram reviradas. Acreditamos haver segredos milenares escondidos embaixo de cada uma delas. Por isso queremos voltar. Nós nos recusamos a dizer que nossa fome foi satisfeita e nossa sede saciada. Queremos mais de Israel.

Como os judeus na diáspora, somos tentados a gritar aos nossos companheiros de viagem: “Até o ano que vem em Jerusalém”. Nossa jornada rumo à Cidade Santa está apenas começando.

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1 VERÍSSIMO, Érico. Israel em Abril. Rio de Janeiro: Globo, 1987, p. 1

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