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Anticristo e Anticristos

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Alguns estudiosos têm tentado negar qualquer historicidade ao termo anticristo, considerando-o apenas uma força espiritual maligna que conduz ao erro doutrinário, geralmente apoiando-se equivocadamente em 1 João 4.3 e 2 João 7. Esta atitude hermenêutica é deficiente, pois ao invés de ser abrangente a ponto de incluir todas as idéias ligadas ao tema, polariza um dos aspectos em detrimento de todos os outros. Em cada passagem é focado somente o que está em acordo com sua crença.

Se aceitarmos a equivalência entre o termo anticristo e a descrição do homem do pecado feita pelo apóstolo Paulo teremos um amplo leque de revelações a cerca do assunto, permitindo traçar um extenso perfil.

A passagem de 2 Tessalonissenses 2.1-12 apresenta elementos inconfundíveis que localiza o anticristo dentro de um conceito histórico. Se a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (2.1) é um evento real e físico, aguardado para algum momento da história, porque então a “manifestação” (2.3) e “revelação” (2.8) do homem da iniqüidade têm uma natureza diferente?

O próprio termo “homem” pressupõe um personagem histórico. Ações como “se assentar no templo de Deus querendo parecer Deus” (2.4) indicam não apenas um contexto histórico, mas também um contexto geográfico, uma vez que “templo de Deus” é referência direta ao Templo de Jerusalém.

Outra questão relacionada à doutrina bíblica do anticristo diz respeito ao que os teólogos chamam de “já, mas não ainda”. Isto significa que algo já aconteceu, ou está em processo, sem, todavia ter chegado à sua plenitude. Com este ponto doutrinário que estamos tratando ocorre o mesmo fenômeno. Tanto João quanto Paulo colocam a manifestação do anticristo/homem do pecado como sendo algo a ser revelado plenamente no futuro, ao mesmo tempo em que já estava presente em sua época.

Filhinhos, é já a última hora; e como ouviste que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristo… (2 João 2.18)

…mas este é o espírito do anticristo do qual já ouviste que há de vir, e eis que já está no mundo (2 João 4.3)

…se assentará no trono de Deus… Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que resiste até que do meio seja tirado; e então será revelado o iníquo… (2 Tessalonissenses 2.4, 6, 7)

Diante dessa realidade, querer atribuir o papel de anticristo a certos hereges, a manifestações demoníacas ou a instituições é no mínimo uma abordagem limitada. Em alguns casos pode até ser válida, mas não pode ter pretensão de preencher plenamente o conteúdo da revelação bíblica.

Nesse aspecto, o próprio apóstolo João identificou muitos personagens de sua época com o anticristo, sem, contudo negar que em algum momento do fim ele se manifestaria. Da mesma forma Paulo reconhece a atuação do “mistério da injustiça” em sua época ao mesmo tempo em que coloca a manifestação plena desse personagem pouco antes da vinda do Senhor.

Dentro dessa visão não há contradição em reconhecer certas pessoas como apresentando características anticristãs. Todavia, esgotar nelas o sentido da revelação bíblica é ficar aquém do almejado. Usar certas passagens isoladas para classificar a crença em um anticristo histórico como ingênua é de fato ser ingênuo. Mesmo a atribuição do título erroneamente a certas pessoas tem seu aspecto positivo. Se os fariseus e doutores da lei tivessem ao menos tentado usar as Escrituras para verificar a possibilidade de Jesus ser o Messias teriam agido de modo completamente diferente.

As revelações da Bíblia a cerca do futuro não tem a finalidade de fomentar qualquer tipo de paranóia. Se isto aconteceu foi como resultado da natureza humana. Não se pode usar a paranóia de alguns para justificar desleixo com um estudo sério das profecias (1 Tessalonissenses 5.20).  Se somos bíblicos em nossa análise então devemos ser ouvidos com respeito.

A vinda do anticristo faz parte do corpo de ensino das Escrituras e, portanto deve ser estudado com zelo como as demais doutrinas. “Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?” (2 Tessalonissenses 2.5). Logo, esse assunto fazia parte das exposições do apóstolo Paulo. Não somos anunciadores da vinda do anticristo. Somos apenas pessoas que crêem total e firmemente na Palavra de Deus.

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