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Cristianismo Progressista – Um Outro Evangelho

Por Eguinaldo Hélio Souza

 

 

Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado! (Gálatas 1.8, 9)

A melhor maneira de destruir o evangelho é produzir um evangelho que não é o evangelho. O nome permanece, mas toda a essência é retirada. Joga-se algumas pitadas do cristianismo bíblico, usa-se palavras usuais do cristianismo histórico, faz-se ocasionalmente referências vagas às verdades cristãs, mas muda-se o restante. Tudo isso aliado a um discurso erudito, com palavras da moda como “justiça social” ou “combate às diferenças” e o que temos é um cristianismo que não é cristianismo.

Quando Adolf von Harnack (1851 – 1930) escreveu em 1901 seu livro O que é cristianismo?, para ele, a teologia liberal era o verdadeiro cristianismo. No entanto, aqueles que conhecem a revelação de Deus em Cristo e em Sua Palavra, sabem que o liberalismo teológico não passava de uma falsa fé, querendo-se passar por Evangelho. A decadência espiritual do cristianismo europeu é a prova concreta disso.

Estamos vivendo algo semelhante em nossos dias. São instituições, eventos, igrejas, líderes religiosos, que misturando um pouco de cristianismo dentro de uma sopa saturada de liberalismo teológico, ecumenismo, marxismo ou neomarxismo, procura identificar-se com o verdadeiro evangelho. Os discordantes não passam de “fundamentalistas ignorantes”, impedindo o “progresso” da humanidade seja lá o que isso significa. Porque a palavra “progressista” há muito é disfarce para toda atividade baseada em conceitos e ideologias humanas e mesmo anticristãs. Quem se apõe a esse progressismo é criminalizado com palavras nada elogiosas, como reacionário, fundamentalista, fascistas, preconceituoso. Alguém que creia na Bíblia como eterna e infalível Palavra de Deus é ingênuo ou maldoso. No mínimo, não deve ser levado a sério. Ou então, deve ser silenciado nos espaços públicos e fora dele. E quem sabe o que mais virá por aí.

A velha e a nova teologia da libertação, que não é nem teologia e nem libertação, está de volta. Ou nunca foi embora. E com ela estão forças ideológicas que “sabem” que Deus não existe, mas que sabem que a religião existe e é uma força social que precisa ser seduzida, para que possa então ser domada e depois descartada como acessório temporário e dispensável.

Mistura-se às palavras “evangelho” e “cristianismo”, conceitos verdadeiros e falsos, bons e ruins. Até porque nenhum movimento prospera só com mentiras e maldades. É preciso acrescentar alguma verdade aparente, algum propósito positivo, do contrário jamais será aceito. Nazismo e comunismo avançaram assim.

Esse “evangelho progressista” não é o poder de Deus para a salvação (eterna) de todo aquele que crê (Romanos 1.16). É a força humana para a “transformação das estruturas sociais” injustas. É puro marxismo com verniz religioso. É humanismo no pior sentido da palavra, antroponcentrismo despido de qualquer teocentrismo real. Seu “reino de Deus” é apenas uma proposta de ordem socialista com um nome piedoso.

Esse evangelho progressista precisa destruir o evangelho real, pois não pode sobreviver diante dele. Seu relativismo não se sustenta diante dos absolutos do cristianismo. Seu ecumenismo não se sustenta diante do exclusivismo cristão, que é o exclusivismo inerente a toda verdade. Não pode admitir um único livro inspirado, um único Deus incomparável, um único Salvador e Redentor, uma única fé salvadora. Seu

discurso de inclusão total não pode tolerar um Deus que exclui o mal, condena a mentira e pune a perversidade.

Sua mensagem não deriva das páginas das Escrituras reveladas. Flui da sabedoria e engenhosidade humana. Seu cristianismo é pretexto e não contexto. Sob a desculpa de “combater o preconceito” defende práticas sexuais ímpias e condenadas por Deus. Usando o eufemismo de “saúde reprodutiva” promove o assassinato de seres indefesos nos ventres de suas mães. O discurso de “unidade da raça humana” é utilizado para igualar os adoradores do Deus vivo aos adoradores de qualquer espírito ou deus, em um ecumenismo babélico que pretende unir o que deve ser separado. A “proteção à mulher” vira o fim da feminilidade e da masculinidade. A suposta busca pela “solução dos problemas sociais” faz calar qualquer voz que fale do problema do pecado e da rebelião humana diante de Deus. A existência humana se resume à mera existência social. E tudo que não se encaixa nessa ótica deve perecer. Discursos discordantes, não importa quão bíblicos sejam, são “discursos de ódio”.

Não querendo ser extenso, mas desejando ser explícito, cito A.W. Tozer, que do alto de suas caminhadas com o Senhor viu mais longe e mais profundo que muitos de nós. Vale a pena procurar o artigo inteiro e lê-lo. Há muito tempo sabemos, que nem tudo que se chama cristianismo e evangelho é de fato cristianismo e evangelho:

Quando as ovelhas confusas começam a cair num despenhadeiro, a ovelha que quiser salvar-se individualmente precisa separar-se do rebanho. A unidade perfeita em tal momento só pode significar destruição total para todos. A ovelha sábia, para salvar sua própria pele, se afasta.

O poder se encontra na união de coisas homogêneas e na divisão das heterogêneas. Talvez aquilo que precisamos nos círculos religiosos de hoje não seja mais união, mas uma certa divisão sábia e corajosa. Todos desejam a paz, mas pode ser que o reavivamento use a espada.1

Esse evangelho “social”, “progressista”, da “libertação”, “integral”, contando com pessoas bem intencionadas e outras nem tanto, por sua própria natureza e propósito, por seus próprios conceitos e propostas, não é o Evangelho Bíblico. E precisamos de discernimento e coragem para perceber e se afastar. Essa associação do “profetismo hebraico com a análise histórica do materialismo marxista ateu” como percebeu Pondé2, nada mais é do que um híbrido monstruoso cujos ovos só poderão produzir cobras e dragões.

As instituições e os líderes envolvidos com esse falso evangelho, independente de quanta fama, dinheiro e erudição possuam, não são defensores das verdades divinas. Muitos deles já mostraram por seus frutos o que realmente importa, já revelaram em que realmente creem. Sacrificaram as verdades que um dia amaram (ou não) no altar de ideias e ideologias que não nasceram no coração de Deus.

Isso não é novo, pois como disse o pregador, nada é novo debaixo dos céus (Ec 1.9). Em muitas ocasiões, a igreja só não foi vencida de dentro para fora, porque pessoas intransigentemente ungidas em seu meio se levantaram e lutaram pela verdade do Evangelho.

Em tempos de crise, Deus sempre salvou a Igreja. Mas ele sempre a salvou pelos teimosos defensores da verdade, e não pelos pacifistas teológicos. (J. Gresham Machen 1881 – 1937)

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1 As divisões nem sempre são más, em TOZER, A.W. O melhor de A.W. Tozer. São Paulo: Mundo Cristão, 1984, p. 63

2 PONDÉ, Luiz Felipe. Guia politicamente incorreto da filosofia. São Paulo: Leya, 2012, p. 152

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