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Visões do Futuro

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Como sabemos o futuro é inevitável. Não existe fuga do amanhã. Também sabemos que pensar escatologicamente é inerente ao ser humano. De uma forma ou de outra, todos terminam por fazer alguma tentativa de “prever” o futuro. Todos têm em sua vida um espaço reservado para o “altar do amanhã”. Não apenas as religiões, mas as filosofias todas dedicam parte de suas reflexões a esse assunto.

Cada grupo, porém se apóia em diferentes bases para confirmar suas previsões. Podemos colocar em uma ponta uma religião como o islamismo, por exemplo e do outro o marxismo ou comunismo. Ambos têm suas fontes que lhe permitem definir como será o futuro. Enquanto para o islamismo o Alcorão, seu livro sagrado, juntamente com as sunas ou ditos do profeta Maomé prevêem a vitória do Islã, Marx se baseou nas “inexoráveis (inflexíveis) leis da História” para afirmar a vitória final do comunismo.

Temos aqui duas formas de saber sobre o futuro: a revelação divina e a razão humana. Para o primeiro grupo, o islã, Alá teria revelado coisas a esse respeito. Para Marx, com seu ateísmo militante, conhecendo as leis que regem a história era possível dizer com certeza o que iria acontecer. Entre um extremo e outro temos uma infinidade de previsões, interpretações e pressupostos escatológicos. Por caminhos diferentes, pessoas diferentes, com visões de mundo completamente distintas têm procurado antever os dias vindouros.

Essas antecipações assumem também destinos diferentes. Para alguns seria o fim da raça humana. Para outros, um futuro glorioso. Podemos ainda falar em uma divisão da humanidade na qual alguns terão um futuro de bem-aventuranças, enquanto a outros estaria destinado um futuro de sofrimento e punição. Essa geralmente uma visão mais comum nas religiões monoteístas. Há tanto previsão de um universo glorioso, quanto de um universo destruído. A crença de cada um define em muito a condição final desse estado eterno.

Dentro desse aspecto podemos falar ainda da abrangência dessas visões escatológicas. Em alguns casos ela concentra-se mais no que acontecerá com o indivíduo. Outras vezes, no que ocorrerá com o planeta Terra e a humanidade. Outras vezes procura-se abranger todo o universo na visão escatológica.

Os caminhos para se chegar a esses futuros também não são os mesmos. Há ênfase na ação humana para criar esse futuro ou há ênfase no agir divino para que tal estado de coisas seja alcançado. Às vezes uma mistura de ambos, esforço humano, mais ação divina. Esse caminho também pode ser gradativo, ou pode chegar através de um evento cataclísmico.

Como percebemos por este esboço, o pensamento escatológico é muito mais presente e influente do que geralmente se imagina. Embora a palavra seja relativamente nova, as idéias que giram em torno do tema estão presentes desde os tempos imemoriáveis. O homem desde o começo já procurava imaginar como seria o fim.

Na verdade, como iremos ver, inúmeros eventos históricos, não só de caráter religioso, mas também filosófico e político, tiveram lugar neste mundo. Quem, por exemplo, concordaria em um primeiro momento que o nazismo tinha motivações escatológicas? Ou que o comunismo tenha algo haver com

escatologia? Nem correntes de pensamento, como o positivismo e o cientificismo deixam de ter sua parcela de conteúdo escatológico.

As vezes tais conteúdos ficam mascarados em ações e conceitos sobre a vida presente, mas uma vez perscrutados, sua natureza apóia-se completamente em supostos resultados futuros, algumas vezes bem futuros. O uso e abuso do termo “científico” serviu para mascarar muitas vezes o que não passava de “crenças”.

Talvez ficar exposto a tantas linhas escatológicas diferentes levem o homem a descrer no futuro, ou mesmo na possibilidade de antecipá-lo. E então, nem mesmo a escatologia bíblica seria digna de confiança. O historiador Will Durant disse que onde existem mil crenças, tendemos a nos tornar céticos (incrédulos) em relação a todas elas1. De fato, nosso mundo moderno tem confundido multiculturalidade com multiveracidade, como se tudo o que se pensa a respeito de como será o futuro pudesse ser verdade, mesmo que essas idéias se contradigam mutuamente. Diante disso, qualquer tentativa de falar sobre o que a Bíblia diz sobre o futuro teria tanto valor quanto qualquer outra afirmação.

Existe uma visão bíblica sobre o futuro e embora as diversas escolas possam ter suas diferenças elas também possuem suas semelhanças. E no momento em que aceitamos a existência de um Deus Soberano, criador e sustentador de todas as coisas, também aceitamos que Ele e somente ele é capaz de nos dizer o que o futuro nos trará.

Conhecer as diversas visões de futuro e o modo como teólogos, filósofos, pensadores e mesmo estadistas trabalharam com tais conceitos é a melhor forma de compreendermos e comprovarmos os efeitos da escatologia na história da humanidade.

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1 DURANT, Will. História da Filosofia. São Paulo:Nova Cultural, 1999

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