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ISRAEL – Muito Mais Que Um Campo Missionário

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

Pode ser dito que de alguma forma um círculo está se fechando na História da Igreja e das Missões Cristãs. O pró-semitismo de algumas alas da Igreja Evangélica e a atual preocupação em evangelizar os judeus é um contraponto com aquilo que ocorreu há dois mil anos atrás, quando um grupo de judeus escutou da boca de seu Messias:

E recebereis poder ao vir sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunha, tanto em Jerusalém como em Samaria e até os confins da terra. (Atos 1.8)

Agora são os salvos dos confins da terra, que tendo recebido poder para testemunhar se voltam para Samaria, Judéia e Jerusalém. Organizações diversas tais como Jews for Jesus, JOCUM e outras enfocam e empolgam-se neste propósito de mostrar aos judeus que o Messias é na verdade o seu Messias.

Poderíamos dizer que este enfoque é desproporcional, uma vez que os judeus representam 0,18% da população mundial e islamismo representa cerca de 20%. Fala-se mais de Israel do que de qualquer outra nação em uma boa parcela das Igrejas Evangélicas. Entretanto é fácil justificar tal atitude, pois as próprias Escrituras falam desse povo mais do que qualquer outro povo. E o reconhecimento dessa insistência bíblica sobre os judeus causou nas últimas décadas uma mudança teológica e comportamental da Igreja para com eles.

A relação cristianismo-judaísmo foi sempre tempestuosa, geralmente com grande prejuízo em termos de bem-estar para os últimos e de testemunho para os primeiros. O cristianismo oprimiu aos judeus por diversas vezes e de diversas formas. Atrocidades inomináveis foram feitas sob símbolo da cruz, o que tornou os judeus avessos a qualquer forma de cristianismo. Eram poucas as vozes nestes dois mil anos que se ergueram em defesa deles. A visão pró-Israel atual dentro da Igreja está longe da unanimidade, mas é uma realidade que não pode ser ignorada. Nunca a igreja se preocupou tanto com a salvação deste povo.

Movimento Judaico-Messiânico

Este é sem dúvida um dos mais importantes movimentos evangélicos do século XX. Discreto e sólido, pode-se dizer que é mais criticado do que verdadeiramente conhecido. Nada tem haver com certos grupos judaizantes que querem ser judeus ser realmente sê-lo. Encontra-se atualmente em uma fase de expansão, tendo consolidado suas bases e superado os principais conflitos internos do movimento.

O verdadeiro movimento judaico-messiânico é formado primeiramente por verdadeiros judeus e não tem qualquer por finalidade transformar um gentio em um judeu. Entende que sua missão não é transformar de qualquer forma a identidade dos gentios e sim confirmar a identidade do judeu. Acredita que seja possível crer em Jesus como o Messias de Israel sem que para isso tenha que negar sua identidade judaica. Eles lêem as páginas do Novo Testamento e se identificam integralmente com aqueles primeiros crentes, judeus em sua maioria e fiéis guardadores da lei judaica.

Ouvindo isso, eles louvaram a Deus e disseram a Paulo: “Veja, irmão, quantos milhares de judeus creram, e todos eles são zelosos da lei.  Eles foram informados de que você ensina todos os judeus que vivem entre os gentios a se afastarem de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem vivam de acordo com os nossos costumes. Que faremos? Certamente eles saberão que você chegou,  portanto, faça o que lhe dizemos. Estão conosco quatro homens que fizeram um voto. Participe com esses homens dos rituais de purificação e pague as despesas deles, para que rapem a cabeça. Assim, todos saberão que não é verdade o que falam de você, mas que você continua vivendo em obediência à lei. Quanto aos gentios convertidos, já lhes escrevemos a nossa decisão de que eles devem abster-se de comida sacrificada aos ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual”. (Atos 21.20-25)

Este texto não esta muito longe de ser uma demonstração de hipocrisia paulina. Ele não estava fingindo ser judeu. Ele o era de fato. Ele e milhares de judeus crentes, vivendo seu judaísmo de acordo com a visão da Nova Aliança, conscientes de que aos gentios estava destinado um expressão diferente da mesma fé.

Os membros da igreja gentia que estudam a questão de Israel têm reconhecido que o cristianismo de uma maneira geral cometeu o erro inverso ao dos judaizantes do primeiro século. Se aqueles queriam fazer de um gentio um judeu, esta procurou tornar o judeu num gentio, chegando mesmo a exigir que este amaldiçoasse toda sua herança judaica antes de se batizar.

Levando-se em consideração a estratégia missionária esta é uma das formas mais eficazes de missões aos judeus – feita de judeu para judeu. Os judeus, principalmente os mais praticantes são reservados em seu contato com os não judeus. Séculos de anti-semitismo cristão foram responsáveis por esta desconfiança. Entretanto, um correligionário lhe dizendo que o Messias dos gentios é antes de tudo o Messias dos judeus causa grande impacto.

Embora não seja grande em número, já são cerca de 10.000 em Israel e mais 10.000 no restante do mundo. Quando podem, não se desligam da comunidade judaica, mas continuam trabalhando entre eles, testificando com suas vidas e palavras (quando surgem as oportunidades) seu encontro pessoal com o Messias.

Rumo ao Concílio de Jerusalém II

Este projeto foi idealizado por Marty Waldman, um judeu messiânico dos EUA e tem por finalidade reverter os efeitos de quase dois mil anos de anti-semitismo cristão. Além das perseguições realizadas pela Igreja, tanto física quanto verbal, o posicionamento teológico com relação aos judeus está sendo enfocado. Em toda a Era Cristã, um judeu só poderia ser batizado como cristão se negasse (ou mesmo amaldiçoasse) sua herança judaica. Em outras palavras, um judeu não poderia mais ser um judeu. Era necessário negar completamente sua identidade para adquirir a salvação.

Este problema é o inverso do ocorrido no período apostólico, um contraponto da controvérsia paulina com os judaizantes. Os judaizantes ensinavam que um gentio tinha que primeiro se tornar judeu para alcançar a graça da salvação. Muitas das epístolas foram escritas no intuito de combater este engano. Quando um Concílio se reuniu em Jerusalém por volta de50 A.D., foi decidido pelos apóstolos e anciãos que os gentios não precisavam tornar-se judeus para seguirem ao Messias. Eles se absteriam dos ídolos, do sangue, do que é sufocado e da prostituição. Definitivamente gentios não precisavam se tornar judeus.

O projeto “Rumo ao Concílio de Jerusalém II” traz a proposta inversa. Quer que os líderes gentios reconheçam que não é necessário que um judeu perca sua identidade. É até importante que ele a confirme. Líderes gentios estarão se reunindo em um dado momento em Jerusalém para declarar que os judeus que crêem ser Jesus o Messias de Israel prometido no Antigo Testamento, não precisam negar a sua herança. Definitivamente judeus não precisam se tornar gentios.

Esta nova forma de entender os elementos judaicos e não judaicos dentro da Igreja de Cristo traz uma importante perspectiva de missões. E mesmo uma importante perspectiva teológica para resolução do problema. Judeus e gentios se unem para formar o corpo de Cristo não em um processo de fusão, onde são perdidas as identidades para formar uma terceira distinta das demais. Eles se unem em um processo de justaposição, onde mantendo sua essência compõe o corpo de Cristo e “ambos tem acesso ao Pai em um mesmo Espírito” (Efésios 2.18).

A resistência judaica para com o cristianismo não tem apenas raízes históricas. Tem também raízes teológicas, pois a supremacia gentílica fez com a presença judaica no corpo fosse praticamente ignorada e uma adequação forçada foi exigida dos judeus. Em sua obstinação para manter sua identidade no turbulento mar de perseguições a que ficaram sujeitos entre as nações ao longo da História, eles resistiram em aderir a uma religião que exigia deles uma negação daquilo que lhe era tão caro. Essa é a razão de sucesso do movimento judaico-messiânico. Poder se tornar um seguidor do Messias sem necessariamente deixar de ser um judeu representa a queda de uma grande barreira.

Uma cena neotestamentária terá uma versão inovadora no século XXI, agora com direção inversa. Em Jerusalém, os gentios reconhecerão a graça de Deus sobre o ministério judaico-messiânico e com as mãos unidas se abençoarão mutuamente para que aqueles se voltem para os gentios e estes à circuncisão. (Gálatas 2.7-9)

O futuro

A atividade missionária entre os judeus não tem sido apenas realizada por meio do “ide”. Menorás, estrelas judaicas, hinos em hebraico e outros detalhes vem representando uma demonstração de receptividade. Ao invés da lendária e histórica acusação de deícidas e assassinos rituais, muitas igrejas vêem com admiração e curiosidade tudo que tem sabor judaico. Há mesmo exageros nesses aspectos que tem despertado um medo de judaização da Igreja. Esse é apenas um pouco do efeito pêndulo.

Como disse o Rabino Marcelo Guimarães no simpósio, as raízes da Igreja não são gregas, nem romanas, nem americanas. As suas raízes são judaicas e ele precisa reconhecer isto. “Não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti”, escreveu o apóstolo aos gentios da Igreja de Roma. (Rm 11.18)

A verdade é que se a porta de Israel não se escancarou para o cristianismo, este vem aos poucos procurando mudar seu pensamento e os resultados positivos estão aí para provarmos. A esperança da Igreja para Israel é a promessa de Romanos 11.26 sobre eles:

 

E assim todo o Israel será salvo, como está escrito:

“Virá de Sião o redentor que desviará de Jacó a impiedade.

 

Que Deus realize sua obra sobre a terra.

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