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O Deus da História

Por Eguinaldo Hélio de Souza

 

“Disse Daniel:

Seja bendito o nome de Deus para todo sempre, porque dele é a soberania e a força é ele quem muda os tempos e as horas, remove os reis e estabelece os reis…

Todos os moradores da terra são reputados em nada segundo, a sua vontade ele opera no exército do céus e nos moradores da terra. Não há quem lhe possa deter a mão e nem lhe dizer: que fazes?”  Daniel 2.20,21;4.35

Seu nome era Flávius Claudius Julianus (331-363 a.D). Imperador romano desde 361 a.D., seu sonho era devolver à Roma seu brilho pagão, agora ofuscado pela glória do Cristianismo. Desde Constantino o César, diante do qual os homens se curvaram e adoravam, adorava ao Cristo. A cruz do Galileo, tornara-se maior que o trono do rei de Roma. Aquele que sob Roma morrera, sobre Roma agora reinava.

Juliano, que entraria para a história com o título de Juliano, o apóstata conhecia o cristianismo, pois toda a sua educação fora cristã. Entre seus companheiros estava o célebre Gregório de Nazianzo.

Em seu íntimo porem, Juliano contemplava o declínio do império. Quanto tempo este ainda estaria de pé? Onde estava agora a glória inigualável daquele reino que dominava todas as terras mediterrâneas e além? Os deuses de Roma, seus suntuosos templos, o culto ao imperador- tudo isto fora desarraigado pela força do cristianismo. Não seria este o motivo de sua decadência? Não seria a solução banir o cristianismo e restabelecer o paganismo romano?

Foi com estes pensamentos em mente que Juliano, no dia 19 de Julho de 362 A.D., entra em Antioquia e oferece sacrifícios no templo pagão. Logo novas medidas seriam tomadas contra os cristãos : proibição dos mesmos em ter cargos públicos, aumento de imposto, proibição aos bispos  de ensinar nas escolas. Em contrapartida esforça-se para reorganizar o paganismo, estabelecendo sacerdotes criando regras, buscando formar uma organização tão grande e firme como o cristianismo. Intentava ele livrar Roma de sua queda.

Mas poderia ele, ou qualquer outro seu sucessor alcançar êxito? Seria possível a Juliano mudar o rumo da história ? É o homem  o único artífice da história, dependendo unicamente dele os caminhos que esta vai tomar? Ou haverão outras forças por trás da cortina do palco histórico? Contende o homem somente  com seus semelhantes ou  existem outras forças além e maiores do que a dele? Além da vontade humana, existirão outras vontades que se inserem nos caminhos do homem no tempo?

Fato ou não, conta-se que no dia  26 de Junho de 363 A.D., durante  uma escaramuçada, Juliano, o apóstata, foi imortalmente ferido. Caindo então de joelhos, ergue mãos e olhos aos céus dizendo “Venceste, ó Galileo” para em seguida tombar sem vida. O sonho de suplantar o Cristianismo com o esplendor de Roma tombava com ele 113 anos depois o império receberia o golpe mortal e Juliano entra para a história como um daqueles que iludidos pensam ter em sua mão o leme do destino humano.

Quem possui, então, o leme? Há mesmo um leme? Há, sequer, um destino, um desfecho, um clímax? Há um “porque” dos acontecimentos? Há um motivo porque o mundo, a história, o tempo seguram em uma direção e não em outra? Há um sentido supra-histórico para cada evento significativo? Será possível encontrar um centro comum  que coadune todas as coisas? É a história um feixe de retas paralelas que prosseguem infinitamente sem se encontrar, ou seria ela como os raios de aro de uma bicicleta, a se cruzarem e se encontrarem no eixo?

Com certeza a maioria dos historiadores modernos protestaria veementemente contra tais possibilidades e taxariam de misticismo qualquer resposta afirmativa a estas perguntas! Há muito que a historiografia se divorciou da teologia, e desde então caminha sozinha como uma orça a recolher objetos diversos no meio-fio do tempo, mas incapaz de criar com eles qualquer coisa que faça sentido. Por mais fios que recolhe nada é tecido com ele.

Reconhecer algo mais do que a existência humana dentro dos eventos seria reconhecer Deus. E colocar Deus dentro da história é algo  que o homem definitivamente não deseja fazer. Ele se recusa a dividir seus planos com aquele. Julga poder, através de seus conhecimentos moldar todos os seus caminhos.

Deus é o Senhor da História. Homens poderosos como Mao, Hitler e Stálin se julgaram donos dos destinos. Os homens podem ir bem longe em sua rebeldia à Deus, mas só irão tão longe quanto Ele permitir. Como o mar, os homens, as nações e os reinos podem se agitar, podem com fúria destruir tudo em seu caminho. Ainda assim, jamais irão além dos limites impostos pelo Deus da história.

Ou quem encerrou o mar com portas, quando trasbordou e saiu da madre, quando eu pus as nuvens por sua vestidura e, a escuridão, por envoltório? 

Quando passei sobre ele o meu decreto, e lhe pus portas e ferrolhos, e disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrarão as tuas orgulhosas ondas? (Jó 38.8-11)

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